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Aqui, no blog da nossa revista eletrônica Acho Digno, você poderá conferir a entrevista feita pela jornalista Ana Cristina Pereira com o poeta e escritor Nelson Maca sobre o seu livro Gramática da Ira. E, na nossa edição de número 7, você também poderá conferir uma matéria sobre o tema. Boa Leitura!


P. Por que batizar um livro de poemas com o nome de Gramática?
R. A princípio, pensei mesmo na estrutura de uma gramática, usando, inclusive, palavras e conceitos de lá. Mas depois centrei-me mais na ideia de pensar como o racismo se estrutura na nossa sociedade e interfere fatalmente na construção (ou destruição) da subjetividade negra. Ideologicamente, procuro colocar a temática e respectivas discussões num plano histórico. O título Gramática da Ira se estabeleceu quase a priori. Eu tinha feito apenas um de seus poemas, o Brother, antes de batizar o livro. Ou seja, todos os poemas foram escritos já em relação de perspectiva. Poemas anteriores a 1999 e posteriores a 2008 não entraram  no livro. Mesmo muitos escritos durante o período de construção da obra não entraram por não se adequarem à orientação que a Gramática da Ira tomou desde seu primeiro poema escolhido. O título é inspirado no belo livro Gramática da Fantasia de Gianni Rodari.
P. A ideia da ira perpassa todo o livro. Poderia falar um pouco mais sobre isto?
R. A ideia geral da Ira como paradigma central da ideologia e postura filosófica e política do livro vem de algumas leituras que me empolgavam à época, como os romances O Filho Nativo (Richard Wright) e Homem Invisível (Ralph Ellison), as memórias de Alma no Exílio (Eldrich Cleaver). O prefácio Bigger, de O Filho Nativo, mexia realmente com minha cabeça.
P. O livro traz um grande número de referências e citações a autores, pensadores e militantes negros. Como foram escolhidas?
As referências e citações vão além de uma ilustração dos poemas. Fazem parte de um diálogo livre, que se pretende com as pessoas que, de alguma forma, atuaram ou comentaram sobre o a negritude no mundo. Na verdade, além das referências, tem também as inferências, quando não trago diretamente nomes e textos alheios, porém tento levar o leitor a leituras próximas do que esses textos , ‘ invisíveis nos poemas’,  dizem. Quase a totalidade desse grande diálogo com essa família de autores se dá com pensadores, ativistas e escritores negros que refletiram sobre a condição humana, mais especificamente a questão da escravidão e do racismo, além da problemática geral de ser negro na África e na diáspora.
P. Para você, é importante se definir como um escritor negro?
Sou adepto do conceito e estudioso da Literatura Negra. Escrevo sempre pensando nisso. Procuro insistentemente imprimir negritude em meus poemas. Ao longo da Gramática da Ira, nos poemas, citações e posfácio, associo-me a um conjunto de escritores negros, e que tratam da temática negra. Luís Gama, Cruz e Souza, Lima Barreto, Ralph Ellison, Richard Wright ocupam lugares essenciais no livro. Fico feliz que, exatamente essa minha filiação às demandas que orientaram o debate sobre a Literatura Negra no século XX seja o lastro teórico do prefácio de Carlos Moore. Ele levanta questões que me coloco cada vez que escrevo, tentando entender se há limites no fazer literário do escritor negro oriundo de um ambiente hostil.
P. Por quê lançar o selo Blackitude ?

R. A Gramática da Ira, desde meu desejo de sua escrita, se pretendia uma obra independente nas ideias, linguagem e na sua materialização enquanto objeto livro. No seu processo, cheguei a conversar com algumas editoras, a convite delas, mas não chegamos a nenhum acordo. Não só pelas propostas indecentes que me fizeram, mas também pelo meu desejo profundo de lançar livro pela atitude política do “do it yourself”. Então, com o livro, surge também o selo Blackitude, que pretende dar seguimento às suas atividades, com outras possíveis publicações.

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